

--O primeiro fato que devemos atentar em tal passagem é que “Jesus olha para aquela multidão e sentiu compaixão dela”. Quem dera que fossemos como Jesus, olhássemos para as multidões e tivéssemos compaixão dela. É triste vermos tantas pessoas que andam como “ovelha sem pastor”. Pessoas que ficam vagando em busca da felicidade, em busca de “deuses”, coisas que as completem. Uns dias atrás, fui ao shopping. Na época, estava um filme sendo lançado e alguns amigos meus iam assistir, ai eu fiquei observando aquela multidão de jovens, todos vestidos com as roupas dos personagens, etc. (Não estou criticando, mas estou analisando um caso entre outros vários que acontecem); e me lembrei rapidamente: “E Jesus teve compaixão deles, pois eram como ovelhas sem pastores”. Fiquei a me questionar quantos estavam ali buscando, diretamente ou indiretamente, um sentido pra vida. Quantos ali estavam ali se deixando levar pelos “ventos do mundo”?!
--A minha atitude muitas vezes quando vejo a multidão não é de compaixão; mas, de certo modo, de critica. Pois digo, comigo mesmo, que elas deveriam procurar um verdadeiro objetivo na vida, uma coisa que não passa. Apesar de minha indagação interior ser relevante e até de boa fé, porém a atitude certa não seria a de julgamento; mas de compaixão. Olhar para aquela gente e saber que elas têm uma história, que são pessoas normais cheias de traumas e dificuldade, cheias de amor e de alegria, também. Então, Jesus, na atitude de compaixão, o que faz? Fica inerte? Não, pelo contrário, Ele foi e ensinou-lhes muitas coisas. Ele falou aquilo que tinha que ser falado de maneira simples e humilde, de tal forma que todos escutaram. Dera nós fossemos como Jesus, ao ver as pessoas buscando essas vãs alegrias deveríamos ensinar onde está a verdadeira felicidade.
--Outro fato curioso é o da multiplicação do Pão, propriamente dito, e suas conseqüências. Primeiro os discípulos, como “aspirantes” de seguidores de Jesus (digo aspirantes, pois eles só foram compreender claramente a mensagem messiânica após estarem cheios do Espírito Santo, Paulo afirma que essa efusão ocorreu no Pentecoste; já João afirma que essa inspiração, esse Ruah, foi em uma das aparições de Jesus ressuscitado), começam a notar, como conseqüência de um coração sensível e preocupado com os outros, que as pessoas possivelmente estão com fome, pois é “já era tarde”. Os apóstolos, vejo eu, que tomaram ao fundo a profundidade antropológica do ensinamento de Jesus e entenderam que as pessoas, mesmo aquelas que seguem Jesus, continuam sendo pessoas e tem necessidade, sejam elas físicas, psicológicas ou espirituais.

--Jesus diz: “Dai-lhes vós mesmo de comer”. Revela por fim a missão dos apóstolos de Igreja, convida aos apóstolos a dividir o pão; convida a todos comerem, porém o apóstolos a dividirem, revelando a necessidade um órgão organizador (para aqueles que dizem que não precisa de Igreja...). Vejo já como uma profecia do trabalho pastoral que os apóstolos farão. Com a partilha do pão eucarístico e com a partilha do pão material, Jesus revela a profunda relação de nossa caminhada espiritual com a nossa vida cotidiana. Revela-nos que devemos olhar para o alto e almejar às coisas do alto, mas não devemos tirar os pés do chão. Mas também revela que: primeiro as coisas do alto e o resto vos será acrescentado (Cf. Mat 6: 25-33).
--Jesus, então pergunta: “Quantos pães tendes? Ide ver.”. Jesus insiste que as coisas não se resolvem segundo as ordens do mundo, mas os Filhos da Luz devem agir e resolver tudo segundo as ordens do alto. Logo a surpresa toma de conta, uma criança tem cinco pães e dois peixes. Esses pães e peixe são, então, divididos e partilhados por todos. Refiro-me à surpresa não pelo milagre em si, mas principalmente por dois fatos: os pães e peixes vem de uma criança, que não tinha lugar nessa sociedade, ninguém esperava nada das crianças; e outro fato consideravelmente importante é a organização das pessoas e a partilha do pão.

--Como diz a Bem-Aventurada Mãe Igreja, em uma de suas orações eucarísticas “caminhando em meio às coisas que passam, busquemos às que não passam”. E isso não nos tira o compromisso de buscá-la em nossas ocupações, em nossos trabalhos e em nossa vida cotidiana. Deus não nos convida a fugir de nossa vida; mas nos convida a santifica-la segundo a ordem do desejo d’Ele. E, por fim, na ordem desse desejo é que se consuma nossa felicidade e complementaridade.