domingo, 31 de janeiro de 2010

"Despiram-no!"

--Nesses últimos dias, meditando um pouco sobre a Paixão do Nosso Senhor, me chama muito atenção às profecias (verdades) que são reveladas pelas pessoas que hão de maltratar e crucificar o nosso Deus.
--Muito me impressionei, primeiramente, pelo fato de que tais verdades serem reveladas de maneira tão hostil e muitas vezes, até mesmo, ridicularizadas. Como que por ironia, o que eles falavam era verdade. Então, faz ressoar em nosso peito o grito de Jesus : "Pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem!". Injuriá-lo-ão, exatamente aqueles a quem ele veio salvar, e o injuriarão por não o reconhecer como Deus. Acreditem, o que mais doeu no sofrimento de Cristo na Paixão não foi as chagas, a coroa, as feridas, nem mesmo as injurias; antes disso, foi saber que mesmo perante toda o seu sofrimento, ainda assim, haverão corações que preferiram a perdição e não escolheram por Ele.
--Muito dói a Cristo aqueles que não o reconhecem como Deus, por isso Nossa Senhora, quando aparece em Fátima, fala: "Rezai assim: Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-vos. Peço-vos perdão por todos aqueles que não crêem, não adoram, não esperam e não vos amam". E a verdade de que Cristo é Deus é exatamente o motivo de sua condenação. Quando Pilatos o pergunta se Ele é Filho de Deus, o que ele responde? Vós o dizeis: Eu sou! (Cf. Lucas 22: 70). Quando Jesus fala: Eu sou. Ele não se revela somente como Filho de Deus, mas como o próprio Deus (Iahweh: Aquele que é). Não haveria sentido em crucificar uma pessoa que se declara Filho de Deus, pois todos os Judeus se consideravam Filhos de Deus. Jesus é penalizado exatamente por que Ele se manifesta Divino.
--Então já notamos a primeira grande verdade manifestada no começo da Paixão, que infelizmente nem todos conseguem notar: Cristo se revela como Deus, e por isso é condenado. Quantos de nós não admitimos a divindade de Cristo e por isso o levamos para Crucificar em nosso próprio ser? Pobre de nós, que não reconhecemos a Cristo como o nosso Deus.
--Então Jesus é levado a Pilatos e o que nós notamos, em meio a tantos tumultos e questionamentos? Que Pilatos questiona o Reinado de Cristo. Então Cristo se manifesta como o Rei, e não um rei. Afirma que é Rei e até mesmo Pilatos o consegue reconhecer, em meio a tantas confusões "Tu o dizes: eu sou Rei", é como se Jesus respondesse: Tu sabes que eu sou Rei (Cf. João 18: 33 - 37). Mas não fitar-me-ei nesse fato. Gostaria de dar uma ênfase especial à Verdade proclamada por Cristo. Jesus se manifesta como anunciador da verdade. Quem é testemunho da verdade, se não os profetas? Então, notemos que Cristo já se manifesta como o verdadeiro Profeta, aquele cujo toda verdade se encerra. Ele é testemunho da verdade que é Ele próprio. Porém, Pilatos, por cegueira, não pode admitir, pela fé, que Jesus é Rei e Profeta, por que falta a sinceridade em seu coração, e além do mais o Deus de Pilatos é outro: não me refiro aos deuses romanos, mas ao dinheiro e a sua posição social, esses, sim, eram os Deus de Pilatos. Pois, se admitisse as verdades de Cristo, seria expulso de seu cargo e enfrentaria a revolta judaica. É triste ver que não foi só Pilatos que preferiu a outros deuses, e é exatamente por essas pessoas que escolhem outros deuses que Cristo, nosso Deus, sofre.
--Então, o que acontece depois? Cristo é levado para ser coroado com uma "formidável" Coroa de Espinhos (Cf. Mateus 27: 27 - 31). Então os soldados o colocam uma coroa em sua cabeça, o despe e escarnecem d'Ele dizendo: "Salve, rei dos judeus!". Nessa evocação é claro a manifestação de Cristo como Rei; mal sabem tais soldados que por meio de injúrias proclamam grandes verdades, fundamentais a nossa fé. A Coroa de Cristo, não é uma coroa que o mundo possa se rejubilar, não há glória humana nenhuma, revelando e reiterando a afirmação que Ele mesmo nos propusera: "Meu reino não é desse mundo" (Cf. João 18: 36). O Reino de Cristo não é afirmado nos prazeres do mundo, mas no Amor, pois na Paixão não se manifesta a dor de Deus e, sim, a sua misericórdia que é manifestação máxima de seu Amor. "De suas chagas não saíram nem sangue, nem dor. Só saíram Amor!".
--E por fim, os soldados, pela misericórdia de Deus, nos manifestam outro grande atributo de Jesus: És sacerdote eternamente, segundo a ordem do Rei Melquisedec. "Os soldados, quando crucificaram Jesus, tomaram suas roupas e repartiram em quatro partes, uma para cada soldado, e a túnica. Ora, a túnica era sem costura, tecida como uma só peça, de alto a baixo." João 19: 23). A túnica do sacerdote é que devia ser sem costura, de alto a baixo. Cristo, na Cruz, se manifesta como o sacerdote universal, em que não entrega um sacrifício humano e imperfeito, mas é o próprio Deus que se sacrifica por cada um de nós. Graças ao sacerdócio de Cristo, hoje, podemos ter a certeza de que Deus nos escuta em nossas orações, pois não o invocamos por nosso méritos mas pelo méritos de Cristo. Qual a função do sacerdote? Não é a de juntar o céu e a terra? De fato, Cristo, pelo mistério da sua Cruz, se manifesta como aquele que junta céu e terra. Por seu mérito, já hoje, poderemos gozar da alegria do mundo que há de vim por meio da esperança. Cristo então se manifesta como Sacerdote, que junta o céu e a terra, como sacrifício perfeito de expiação dos pecados de toda a humanidade, e ele mesmo se apresenta como o altar, pois sofre mais em si mesmo, dentro de si, do que em suas chagas por fora. Graças a Cristo, podemos ter a esperança da salvação, coisa inacessível àqueles que viviam antes de Cristo (de fato, eles não foram para a perdição eterna, mas foram para a mansão dos mortos, onde esperavam a vinda de Cristo).
--Outro fato impressionante é o fato de Jesus ser despido. Quando Jesus é despido, Ele revela sua humanidade na integridade e se mostra tal como Ele é, sem medo de ser julgado, ou vergonha da aceitação do povo. Provavelmente, sentiu uma profunda vergonha, e tal hora foi oferecida pelos pecados da impureza da carne; mas não sentiu vergonha se todos iriam o aceitar como Cristo. Cristo se despe para cada um de nós e tenta revelar-se totalmente a nós, é nós que muitas vezes viramos o rosto e não o olhamos, por vergonha d'Ele e de nós mesmo. Quando estamos próximo d'Ele, Ele nos acolhe, mas quase ninguém quer estar próximo d'Ele.
--Irmãos, agora olhando de maneira geral, o que notamos? Notamos que Cristo não cansa de se revelar a nós, mesmo mediante às iniqüidades, e aos pecados. Claro, entendam, quando pecamos, nós é que ficamos surdos, mas Deus não fica mudo. Jesus revela toda a sua majestade e ministério em meio às iniqüidades e pecados, não os d'Ele, pois não os tinha, mas os dos outros.
--Infelizmente, nós só queremos escutar aquilo que nos é fácil aos ouvidos e não aceitamos de bom grado aquilo que nos é falado com um tom de voz que não nos satisfaz. Desculpamo-nos que só por que um Padre ou um amigo foi ríspido para não escutar o que Ele, fala por meio dele, se é que me entendem. Muitas vezes, no nosso cotidiano, não temos um ouvido sensível, para perceber o sobrenatural naquilo que é natural. De perceber Aquele Que É (Iahweh) em meio àqueles que não são! Desculpamo-nos e nos escondemos na verdade, só por que nem sempre ela se manifesta pela boca de pessoas que não gostamos. Desculpa falar, mas é hipocrisia nossa escutar com mais afinco as palavras de certo sacerdote só por que ele é bem aparentado e excluir a de outros só por que ele parece um maltrapilho, ou é feio.
--É triste ver que fazemos acepção de pessoas, como São Paulo tanto recriminava, e escutamos àqueles quem nos apraz e desprezamos os outros. Tenhamos então a partir de hoje, a determinação de saber tudo escutar, para poder tudo guardar. Escutar e acolher, mesmo quando proclamadas por quem não gostamos, ou da maneira que não gostamos.
--O que vale mais então, prata não polida; ou esterco banhado em ouro?