terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Shema Yisrael...

--“Ouve, ó Israel: Senhor nosso Deus é o único Senhor! Portanto, amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua força. Que estas palavras que hoje te ordeno estejam em teu coração. Tu inculcarás aos teus filhos, e delas falarás sentado em tua casa e andando em teu caminho, deitado e de pé. Tu as atarás também à tua mão como um sinal, e serão como um frontal entre os teus olhos; tu as escreverás nos umbrais da tua casa, e nas tuas portas.” (Deuteronômio 6: 4-9)
--Ouve, Israel, ouve!
--Estava eu, irmãos, meditando esses dias, sobre a humanidade, sabe. Sobre as nossas incoerências e prioridades. Deparei-me, então, com um fato triste: o maior pecado da humanidade, é a idolatria; pensei eu que era o pecado contra a pureza e a soberba. De sobremaneira, hoje, estou sendo mais direto, notarão? Então, gostaria eu de poder partilhar minha indignação convosco.
--De fato, o falo tal, por notar que as pessoas preferem seguir às suas convicções ou às ideologias do mundo do que amar a Deus com todo o seu entendimento, sua alma e sua força. Deus nunca nos pediu outra coisa senão tal, não nos imbuiu de inúmeras leis, ou no colocou fardos em nossas costas. Pelo contrário, preferiu Ele mesmo fazer tais coisas para que não nos fosse necessário fazer (e se fizermos é por pura e espontânea atitude deliberada de amar).
--Na prática, o que vejo é: temos a disposição de andar quilômetros para ir a uma festa, beber, farrear, etc. Mas não nos detemos em andar alguns quarteirões para participar do Santo Sacrifício da Missa. Temos a simples disponibilidade de coração para passar a madrugada toda em uma festa, dançando; mas não fazemos nada quando se trata em adorar e vigiar pelas coisas de Deus. Forçamo-nos a rigorosos regimes para saciar às mínimas vaidades; mas jejuns... alguns chegam até a dizer que não é vontade de Deus!
--De fato, tudo isso que falei não temos a obrigação em fazê-lo, e nem espero, que por uma determinação hipócrita alguém deseje fazer isso; simplesmente expus a verdade tal qual ela é. Tentei expor a realidade de nosso coração que tem o nosso tesouro nas coisas da terra. E se nosso tesouro, aquilo pelo qual mais lutamos, está na terra, ai também estará nosso coração (cf. Mateus 6: 21).
--Loucura desse mundo, loucura mesmo. Abandonar aquilo que é eterno pelo preço do prazer, pelo preço que nenhum pecado pode pagar. Ah, se as almas soubessem o preço que elas custam. Se soubéssemos o preço de cada chaga aberta de Cristo, de cada gota de sangue. Se soubéssemos o preço de cada alma que se perde, não seriamos tão corruptíveis.
--Um dia, um irmão, estava me falando sobre o que a tradição fala sobre o sofrimento de Jesus no horto das oliveiras. Foram três horas de sofrimento:O inimigo lhe apresenta o quanto ele tem que sofrer pelo pecado da humanidade; os anjos mostram o quanto ele deve sofrer em expiação de cada pecado e pelo santificação de cada alma; o inimigo mostra as almas que, apesar de todo o Amor que Cristo distribuiu livremente, escolherão por não amá-lo e irão se perder. Nessa última hora, foi a hora em que Jesus suou sangue, pois pior do que sofrer é sofrer em vão!
--Nossa disposição é, ainda hoje, muito farisaica. Dizemos que amamos a Deus, dizemos que o adoramos. “Todos conhecem a Jesus!”. Loucura do mundo dizer isso, hipocrisia nossa. Poucos são os que realmente conhecem a Jesus, Ele não é uma marca, é uma pessoa que vive, tem identidade, e não é algo.
--Muito me dói entrar nas Igrejas e ver pessoas se perderem em tantas conversas vãs, muitas vezes com Jesus exposto no Santíssimo Sacramento, exatamente na hora em que Jesus “se despe” de sua condição divina para se mostrar tal como é. Muito triste tal realidade, muitas vezes se trata a Jesus como algo morto, ou um “poço dos desejos” onde se coloca uma moeda e se faz um desejo: espera-se então que ele atenda.
--De fato, em contrapartida, fico muito feliz por ver a misericórdia de Deus, e o Amor que Ele manifesta a cada um desses. Fico feliz por saber que Ele não nos escolheu por merecermos, ou por fazer algo. Nos escolheu de graça, e é de graça que nos dá tudo, é de graça que nos Ama. Então, não precisamos nos dispor por proposições hipócritas de fazer tais e tais coisas para agradar a Deus, pois só o Amor pode o agradar verdadeiramente e nenhuma miséria, mesmo a mais grave, pode o entristecer ou fazer com que Ele nos deixe à mercê.
--Irmãos, alegremo-nos, pois o Amor a nós foi manifestado e sim nós temos que exultar de alegria n’Ele. Só n’Ele consiste toda a alegria, só n’Ele. Não adianta buscarmos no mundo aquilo que n’Ele não iremos encontrar.
-- “Pois Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho único, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16).
--E nos Amou tanto que nos qualificou como filhos, e nos deu a mesma herança que só Cristo é dignitário de tão grande mérito; mas o “Amor não sabe medir” (Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face)! Por que recorremos a felicidades tão vãs se a nós ela é manifestada de graça.
--Não nos preocupemos nem quando nos chamarem de loucos, por que Amamos a Cristo com todo o nosso coração entendimento e nossa força, e colocarmos Ele no centro de nossa vida, não nos preocupemos, pois: Esse é o dia que o Senhor fez para nós, alegremo-nos e exultemos. Alegremo-nos principalmente quando buscarmos a Cristo de todo o coração e por amor a Ele formos perseguidos (cf. Mateus 5: 11).
--Luz e Paz, da parte da Nossa Alegria.

domingo, 31 de janeiro de 2010

"Despiram-no!"

--Nesses últimos dias, meditando um pouco sobre a Paixão do Nosso Senhor, me chama muito atenção às profecias (verdades) que são reveladas pelas pessoas que hão de maltratar e crucificar o nosso Deus.
--Muito me impressionei, primeiramente, pelo fato de que tais verdades serem reveladas de maneira tão hostil e muitas vezes, até mesmo, ridicularizadas. Como que por ironia, o que eles falavam era verdade. Então, faz ressoar em nosso peito o grito de Jesus : "Pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem!". Injuriá-lo-ão, exatamente aqueles a quem ele veio salvar, e o injuriarão por não o reconhecer como Deus. Acreditem, o que mais doeu no sofrimento de Cristo na Paixão não foi as chagas, a coroa, as feridas, nem mesmo as injurias; antes disso, foi saber que mesmo perante toda o seu sofrimento, ainda assim, haverão corações que preferiram a perdição e não escolheram por Ele.
--Muito dói a Cristo aqueles que não o reconhecem como Deus, por isso Nossa Senhora, quando aparece em Fátima, fala: "Rezai assim: Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-vos. Peço-vos perdão por todos aqueles que não crêem, não adoram, não esperam e não vos amam". E a verdade de que Cristo é Deus é exatamente o motivo de sua condenação. Quando Pilatos o pergunta se Ele é Filho de Deus, o que ele responde? Vós o dizeis: Eu sou! (Cf. Lucas 22: 70). Quando Jesus fala: Eu sou. Ele não se revela somente como Filho de Deus, mas como o próprio Deus (Iahweh: Aquele que é). Não haveria sentido em crucificar uma pessoa que se declara Filho de Deus, pois todos os Judeus se consideravam Filhos de Deus. Jesus é penalizado exatamente por que Ele se manifesta Divino.
--Então já notamos a primeira grande verdade manifestada no começo da Paixão, que infelizmente nem todos conseguem notar: Cristo se revela como Deus, e por isso é condenado. Quantos de nós não admitimos a divindade de Cristo e por isso o levamos para Crucificar em nosso próprio ser? Pobre de nós, que não reconhecemos a Cristo como o nosso Deus.
--Então Jesus é levado a Pilatos e o que nós notamos, em meio a tantos tumultos e questionamentos? Que Pilatos questiona o Reinado de Cristo. Então Cristo se manifesta como o Rei, e não um rei. Afirma que é Rei e até mesmo Pilatos o consegue reconhecer, em meio a tantas confusões "Tu o dizes: eu sou Rei", é como se Jesus respondesse: Tu sabes que eu sou Rei (Cf. João 18: 33 - 37). Mas não fitar-me-ei nesse fato. Gostaria de dar uma ênfase especial à Verdade proclamada por Cristo. Jesus se manifesta como anunciador da verdade. Quem é testemunho da verdade, se não os profetas? Então, notemos que Cristo já se manifesta como o verdadeiro Profeta, aquele cujo toda verdade se encerra. Ele é testemunho da verdade que é Ele próprio. Porém, Pilatos, por cegueira, não pode admitir, pela fé, que Jesus é Rei e Profeta, por que falta a sinceridade em seu coração, e além do mais o Deus de Pilatos é outro: não me refiro aos deuses romanos, mas ao dinheiro e a sua posição social, esses, sim, eram os Deus de Pilatos. Pois, se admitisse as verdades de Cristo, seria expulso de seu cargo e enfrentaria a revolta judaica. É triste ver que não foi só Pilatos que preferiu a outros deuses, e é exatamente por essas pessoas que escolhem outros deuses que Cristo, nosso Deus, sofre.
--Então, o que acontece depois? Cristo é levado para ser coroado com uma "formidável" Coroa de Espinhos (Cf. Mateus 27: 27 - 31). Então os soldados o colocam uma coroa em sua cabeça, o despe e escarnecem d'Ele dizendo: "Salve, rei dos judeus!". Nessa evocação é claro a manifestação de Cristo como Rei; mal sabem tais soldados que por meio de injúrias proclamam grandes verdades, fundamentais a nossa fé. A Coroa de Cristo, não é uma coroa que o mundo possa se rejubilar, não há glória humana nenhuma, revelando e reiterando a afirmação que Ele mesmo nos propusera: "Meu reino não é desse mundo" (Cf. João 18: 36). O Reino de Cristo não é afirmado nos prazeres do mundo, mas no Amor, pois na Paixão não se manifesta a dor de Deus e, sim, a sua misericórdia que é manifestação máxima de seu Amor. "De suas chagas não saíram nem sangue, nem dor. Só saíram Amor!".
--E por fim, os soldados, pela misericórdia de Deus, nos manifestam outro grande atributo de Jesus: És sacerdote eternamente, segundo a ordem do Rei Melquisedec. "Os soldados, quando crucificaram Jesus, tomaram suas roupas e repartiram em quatro partes, uma para cada soldado, e a túnica. Ora, a túnica era sem costura, tecida como uma só peça, de alto a baixo." João 19: 23). A túnica do sacerdote é que devia ser sem costura, de alto a baixo. Cristo, na Cruz, se manifesta como o sacerdote universal, em que não entrega um sacrifício humano e imperfeito, mas é o próprio Deus que se sacrifica por cada um de nós. Graças ao sacerdócio de Cristo, hoje, podemos ter a certeza de que Deus nos escuta em nossas orações, pois não o invocamos por nosso méritos mas pelo méritos de Cristo. Qual a função do sacerdote? Não é a de juntar o céu e a terra? De fato, Cristo, pelo mistério da sua Cruz, se manifesta como aquele que junta céu e terra. Por seu mérito, já hoje, poderemos gozar da alegria do mundo que há de vim por meio da esperança. Cristo então se manifesta como Sacerdote, que junta o céu e a terra, como sacrifício perfeito de expiação dos pecados de toda a humanidade, e ele mesmo se apresenta como o altar, pois sofre mais em si mesmo, dentro de si, do que em suas chagas por fora. Graças a Cristo, podemos ter a esperança da salvação, coisa inacessível àqueles que viviam antes de Cristo (de fato, eles não foram para a perdição eterna, mas foram para a mansão dos mortos, onde esperavam a vinda de Cristo).
--Outro fato impressionante é o fato de Jesus ser despido. Quando Jesus é despido, Ele revela sua humanidade na integridade e se mostra tal como Ele é, sem medo de ser julgado, ou vergonha da aceitação do povo. Provavelmente, sentiu uma profunda vergonha, e tal hora foi oferecida pelos pecados da impureza da carne; mas não sentiu vergonha se todos iriam o aceitar como Cristo. Cristo se despe para cada um de nós e tenta revelar-se totalmente a nós, é nós que muitas vezes viramos o rosto e não o olhamos, por vergonha d'Ele e de nós mesmo. Quando estamos próximo d'Ele, Ele nos acolhe, mas quase ninguém quer estar próximo d'Ele.
--Irmãos, agora olhando de maneira geral, o que notamos? Notamos que Cristo não cansa de se revelar a nós, mesmo mediante às iniqüidades, e aos pecados. Claro, entendam, quando pecamos, nós é que ficamos surdos, mas Deus não fica mudo. Jesus revela toda a sua majestade e ministério em meio às iniqüidades e pecados, não os d'Ele, pois não os tinha, mas os dos outros.
--Infelizmente, nós só queremos escutar aquilo que nos é fácil aos ouvidos e não aceitamos de bom grado aquilo que nos é falado com um tom de voz que não nos satisfaz. Desculpamo-nos que só por que um Padre ou um amigo foi ríspido para não escutar o que Ele, fala por meio dele, se é que me entendem. Muitas vezes, no nosso cotidiano, não temos um ouvido sensível, para perceber o sobrenatural naquilo que é natural. De perceber Aquele Que É (Iahweh) em meio àqueles que não são! Desculpamo-nos e nos escondemos na verdade, só por que nem sempre ela se manifesta pela boca de pessoas que não gostamos. Desculpa falar, mas é hipocrisia nossa escutar com mais afinco as palavras de certo sacerdote só por que ele é bem aparentado e excluir a de outros só por que ele parece um maltrapilho, ou é feio.
--É triste ver que fazemos acepção de pessoas, como São Paulo tanto recriminava, e escutamos àqueles quem nos apraz e desprezamos os outros. Tenhamos então a partir de hoje, a determinação de saber tudo escutar, para poder tudo guardar. Escutar e acolher, mesmo quando proclamadas por quem não gostamos, ou da maneira que não gostamos.
--O que vale mais então, prata não polida; ou esterco banhado em ouro?